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A mostrar mensagens de maio, 2018

A FACE OCULTA DA EMOÇÃO

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A FACE OCULTA DA EMOÇÃO  Repara como se usa e manipula  Uma emoção qualquer, a bel-prazer,  Se a razão não a filtra, nem regula,  E deixa que ela exerça um tal poder  Que o que havia de bom nela se anula  Pra dar lugar ao mau que nela houver  E te enreda, te prende, te encasula  Nas mais perversas tramas do teu ser.  Emoção livre e todo-poderosa  É cega, é surda, avança impiedosa,  Não olha a meios pr`alcançar as metas,  Não tem espírito crítico, nem pensa;  Ora beija, ora esmaga sem detença  Homens, mulheres, crianças e poetas.  MariaJoão Brito de Sousa – 23.05.2018 – 08.01h

MENTE DESCONTÍNUA

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MENTE DESCONTÍNUA  (segundo R. Dawkins)  Ó Mente Descontínua, enquanto pensas  Nos pequenos padrões por que te guias,  Atenta no que perdes, olha as densas  Nuvens cinzentas que tu própria crias!  Razões pra desdizer-te, são imensas;  Não são poucas as mentes que desvias  E que submetes às razões pretensas  Das tuas caprichosas tiranias.  Repara como o tempo te reduz,  Como à contradição te leva a luz,  Enquanto quase nada andaste em frente,  Porquanto procuraste, salto a salto,  Encontrar a firmeza do asfalto  Na fluidez de um fio de água corrente.  Maria João Brito de Sousa – 14.05.2018 – 19.14h  Não se pode conhecer bem uma árvore sem ter abarcado primeiro a floresta inteira, essa, a que não é apenas um somatório de árvores e sim esse somatório potenciado e condicionado pelas suas próprias interacções. - Eu

AMOR E DOR - Epílogo

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AMOR E DOR - Epílogo  Pra rematar a saga, Amor consente  Tomar a Dor por esposa e companheira.  Amor, que nunca foi muito prudente,  Não sabe o que é passar a vida inteira  Lado a lado com Dor, que impenitente,  Inflige a Amor insónias e canseira.  Amor está cego e a Dor, sendo inocente,  Nem pode pressupor ter feito asneira.  Deu-se este enlace em tempos tão remotos  Que nem posso evocar que estranhos votos  Uniram para sempre este casal,  Mas garanto que afirmam ser felizes,  Que deram fruto, tiveram petizes  E se amam. Para o bem e para o mal!  Maria João Brito de Sousa – 14.05.2018 – 11.15h  Imagem - AMOR E DOR - Edvard Münch

AMOR E DOR II

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AMOR E DOR II Amor e Dor, brincando se entre-chocam E se enredam num fio que acaba em nó. Até então, Amor vivera só E, a Dor, lá nas lonjuras que se evocam. Moram juntos agora e, mal se tocam, Sentem um pelo outro um mesmo dó; Amor, que era imortal, desfaz-se em pó E a Dor sucumbe à dor que os nós provocam. Nesta paradoxal (des)união, Sente Amor, pela Dor, tal compaixão, Que cega, pra não vê-la sucumbir E a Dor, que vendo Amor, o julga são, Mais se enreda nos nós, mais sem perdão Se obriga a não deixar Amor partir. Maria João Brito de Sousa – 13.05.2018 – 09.27h

AMOR E DOR NAS FALDAS DO ARARATE

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Chegando ao Ararate, Amor e Dor,  Sentaram-se, cansados da jornada.  Olhando o Monte, a Dor ficou sarada  E, de contente, quis curar Amor;  Repara, Amor, que estava bem pior  Antes de iniciar a caminhada,  Que, olhando o Monte, foi-se-me a pontada,  Que sinto despontar força e vigor!  Vem ver, para que o mal nunca te chegue,  Para que a dor, ao ver-te, se te negue,  E não haja doença que te mate!  Ouviu-a, Amor. Olhou. Perdeu-se olhando.  Voltou sozinha a Dor, de dor chorando  Por perder-se de Amor nesse Ararate.  Maria João Brito de Sousa – 10.05.2018 – 18.46h

DO SONETO

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DO SONETO  A Rima empunha enxadas e resiste!  Premindo teclas sem hesitação  Percorre o Tempo de palavra em riste;  Que ninguém tente impor-lhe a rendição!  Pode trazer consigo um verso triste  Para juntá-lo ao viço da canção  Que canta quem não cala, nem desiste  De fazer de um soneto uma missão,  Ou pode estar escondida, ensimesmada,  Em gestação latente e bem calada  Até que, de repente, brota e jorra  Como se fosse, a espera, premiada  E, quando já madura e fermentada,  Desse vida ao Soneto, antes que morra.  Maria João Brito de Sousa – 09.05.2018 – 11.20h

O IMPÉRIO DO SONHO E DA RAZÃO

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Sei lá se olhando a Lua vi pegadas...  Fazer Roschach? Não, não me apetece!  Mas sei que há mentes muito atribuladas  Vendo padrões em tudo o que parece  Ser semelhante às coisas procuradas  Que o olho focaliza e reconhece  Como outras coisas já padronizadas  E usadas nos padrões que esse olho tece...  Sobram-me – ainda...- algum discernimento  E aquela rapidez de entendimento  Que bastam pra saber dizer que NÃO  Se a Fantasia, prima do Talento,  Me concedesse as honras de um portento  Do Império do Sonho e da Razão.  Maria João Brito de Sousa – 08.05.2018 – 18.01h NOTA – Delegando hipotéticos cargos, já que não posso delegar dores reais...

VÔOS DE PARDAL

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^ VÔOS DE PARDAL  Tenta gerir o tempo do poeta  Que nunca sabe quando um verso chega  E tantas vezes no tempo delega  Versos que o dia a dia lhe prometa.  Tenta mudar a rota do cometa,  Ou tenta dar uma pequena achega  Ao imenso universo que ta nega,  Pois desconhece a sua própria meta!  Tenta deter o amor, quando paixão,  Tenta (re)programar a vocação  Impondo-lhe fronteiras, rumos, cais...  Tenta-o tu, porque eu bem sei que o não  Conseguirás. Terás tentado em vão  Deter o vôo livre dos pardais!  Maria João Brito de Sousa – 02.05.2018 – 15.15h

NAQUELA NOITE

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Naquela noite, toda a noite riste. Eu, mera narradora do que observo, Observava-te inteiro, nervo a nervo, Curiosa, inda que absorta, inda que triste. Naquela noite, nem sequer me viste, Não foste o meu senhor, nem o meu servo, Foste a razão de ser do que eu preservo E o pouco que de ti em mim persiste. Não sei do que falaste. Eu não falei. Olhei-te tanto quanto a mim me olhei No espelho do teu sono e do teu riso E quanto mais te olhava, mais preciso Se me tornava olhar-te como olhei, Nessa noite em que riste e eu não chorei. Maria João Brito de Sousa – 10.04.2018 – 11.11h