Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2018

MÃO(S) II

Imagem
MÃO(S) II A mão que molda o barro, ao barro torna Pra que não falte barro às mãos por vir, Pra que haja novas mãos a ressurgir, Pra que varie o barro, ao tomar forma. Abençoada a mão que foge à norma E se recusa ao gesto de oprimir; Abençoada a mão que resistir Moldando o mesmo barro a que retorna. Olho esta minha mão. A tua. A nossa. Sei que há-de fazer tudo quanto possa Pra que outras sobrevenham depois dela. À minha mão velhinha, em tempos moça, Já o tempo a descarna e a desossa Sobre um barro que a fez menina e bela. Maria João Brito de Sousa – 26.04.2018 – 15.02h

O FEITIÇO DA ÁGUA

Imagem
Cobriste-me de dogmas e de ideias, Ingénuas, umas, outras, consistentes. Conheces as razões por que as semeias E a ti te contradizes, se as desmentes. À luz, porque a procuras com candeias? Às trevas, se as houver, por que as consentes? Nas malhas que teceste, por que enleias Fios que eu desenredei, usando pentes? Vens cobrir-me de um pó viscoso e espesso, Mas a minha vontade não tem preço E bem me basta o pó de cada dia. Leva contigo o visco que te sobra, Que eu não sirvo de pau pra toda a obra. Antes serei maré. Mesmo vazia. Maria João Brito de Sousa – 19.04.2018 – 14.07h Imagem retirada da net, via Google

"IMAGINE"

Imagem
Imagine-se a dor da companheira, Da mãe que o concebeu, da sua irmã, A angústia da família, toda inteira, Que foi vê-lo partir nessa manhã, Imagine-se a bela cigarreira De que Pessoa fala, intacta e vã, Caída mesmo ali, à sua beira, Como um grito de paz na terra chã. Imagine-se o todo, em pormenor; A surpresa, a revolta, o espanto, a dor E o buraco negro que os sucede. Imagine medir, se capaz for, A grandeza, o tamanho desse horror Que eu tenho para mim que se não mede... Maria João Brito de Sousa – 16.04.2018 – 13.11h Na sequência da leitura de um poema homónimo de António Manuel Esteves Henriques